07 abril 2009

A CRÍTICA DO NECESSITARISMO E O DEVIR PANORÂMICO

Por mais que uma suposta crítica da razão pós-moderna possa engendrar novas contingências de acordo com o colapso da própria razão num âmbito histórico, seria impossível desconciliarmos da esfera necessitária de, por exemplo, experimentarmos e suspendermos o ser dentro do Nada heideggeriano e além do ente em sua totalidade.
Ora, é apenas através da angústia que, por excelência, simulamos a flutuação do ente na atmosfera do Nada. Isso é nada mais/nada menos que transcendência metafísica, e não deixa de estar numa esfera necessitária que, a priori, não permitiríamos um desconciliamento.

Pois bem... assim como ocorreu com a razão, a metafísica corre o risco de entrar no mesmo colapso, se os categóricos continuarem a validar SOMENTE o âmbito histórico da maior de todas as ciências; ou seja, a
filosofia. Porém, é justamente esse risco que, quando transformado em devir, envolverá a imortalização da metafísica. Mas, da mesma forma que esse devir tende a se tornar a própria metafísica, toda essa nova problemática tende a se tornar um outro devir (mais panorâmico), que circundaria condições diferentes da mesma filosofia.

Ok. Quem dera, enfim, se esta filosofia última mantivesse a trajetória metafísica que tanto lhe pertence. Mas, quando estipulamos pressupostos e fins para a filosofia somente como artifício, na verdade estamos estipulando um atestado para a sua própria "extinção". E, de certa forma, é o que está acontecendo atualmente com a filosofia como filosofia. Em contrapartida, ao decorrer de toda a sua história, a filosofia primeira sempre permaneceu imutável.

O papel da filosofia não é o de solucionar problemas. Ela não quer responder, mas responde sem querer. A filosofia não quer. Os único "queres" dela é que ela quer questiona, quer elabora melhor uma questão prévia. Mesmo assim, se levarmos essa condição ao pé da letra, corremos riscos de estarmos às proximidades dos abismos da Linguística. Em específico, a metalinguística, pois, estaríamos aplicando a linguística na filosofia; e não a filosofia na linguística.

Quando aplicada à linguística, a filosofia problematizaria exatamente esta questão de corrermos riscos. Este é um forte indício de que a filosofia se inclina para ela mesma como filosofia e de que todos os questionamentos e problemáticas que não sejam decorrentes dela não fazem, de maneira nenhuma, parte dela. Pode-se dizer que a filosofia é a metafísica. E é daí que nasce meu principal problema com a inatingibilidade da filosofia como filosofia.

Por exemplo, a letra A.
- O que é a letra A?
- É uma letra.
- Mas, o que é esta letra que chamamos de "letra A"? E, o que é esse tróço que chamamos de "letra"? É um tróco? Chega a ser algo? Se é: por que é? Se não é: por que não é?

Na introdução à metafísica de Bergson, quem se frustrou e levou a pior foi um copo de vidro que estraçalhei na parede. Nós chamamos esta prática de "convite". A filosofia é auto-convidativa somente para quem a enxerga ao mesmo tempo como o alvo e o trajeto pelo qual se chegaria a este alvo. AGORA SIM há uma nobre e louvável finalidade na filosofia. Ou seja, a própria filosofia como finalidade dela mesma.

Agora eu consigo chegar no ponto que eu queria. Bom, quando se busca a filosofia COMO REFÚGIO, atribui-se uma espécie de substituição individual de valores intrínsecos (como a troca de um vício por outro), onde se perdura a ética, que está na busca propriamente dita (lembrando que, antes da busca como categoria ética, há uma extensa problemática a ser cuidadosamente tratada).
E, por ironia do destino, este convite nos faz recorrer exatamente àquilo que foi responsável por nos permitir buscá-la como refúgio.

Em outras palavras, se eu me recorro às formulações metafísicas de Heidegger, na verdade estou me recorrendo ao convite ao maior abismo de todos, a saber: o convite à suspensão do ente no Nada, que só é possível com a angústia. Porém, todo este dispositivo nos traz problemáticas empíricas. Mas, por que não se envolver e aproveitar essa angústia que nós mesmos nos demos de bandeja e assim aproximarmos da filosofia pura? Sempre costumo comparar esta prática com um filme que assisti há muito tempo atrás chamado Linha Mortal, onde as personagens provocam a própria morte com a finalidade de sempre ULTRAPASSAR o próprio limite e desvendar mistérios de consenso universal.

Procurar a filosofia como refúgio é uma coisa boa? Sim, é.

Em suma: desilusões amorosas, desmotivações, frustrações, etc possuem, enfim, grandes finalidades!

TUIZIM
09-abril-2009